Habitar zonas de transição e aquecer o compromisso de fortalecer permanentemente o campo da dança no Ceará. Ao longo de décadas, com essa convicção, a Bienal vem desencadeando revoluções e articulando olhares, escutas e fazeres num fluxo contínuo de movimentos que unem memórias e iniciações como possibilidades de invenção. Desde o ano de 2008 a Bienal De Par em Par é uma trajetória sem modelo único, uma trilha/compartilha que se quer como um conjunto de passos que não somente constata, ao contrário, é, antes de tudo, experiência que refunda o vigor, a criatividade, a coragem, a arte.
Estamos no ano de 2022. Não é um ano qualquer. A 8ª edição da Bienal De Par em Par ocorre no mês da eleição mais importante do período de pós redemocratização do Brasil. O país inteiro está em processo curatorial. Parece óbvia a melhor escolha. Não é. Boa parte do país faz eco ao fascismo. Mas nós, aqui, nordeste do Brasil, somos de maioria antifascistas e fomos às urnas sorrir à democracia. Estamos maioria nordestina também nos palcos e praças desta edição da Bienal De Par em Par e nos juntamos a Paul Klee quando nos provoca afirmando que a arte não é fazer o visível e, sim, fazer visível. De Par em Par, portanto, sempre atravessada e nutrindo desejância.
Aqui, Fortaleza, estado do Ceará, nós artistas, nós, Bienal de Dança, somos da pluralidade e das liberdades! E afirmando a pluralidade e a liberdade apresentamos, como equipe de curadoria da Bienal, uma costura dramatúrgica curatorial que constrói com a dança, e em dança, estados de ocupação e presença nos nossos cotidianos. Esses elementos revelam uma De Par em Par que afronta códigos vigentes e inaugura pontos de reelaboração que desordenam e deslocam certas prevalências estabelecidas. Com isso, reafirmamos, ainda, que a dança, há muito, já não é somente uma especificidade estética; e a curadoria que nos move é trazida aqui como gesto-respiração que pergunta.
Seguimos assim, percebendo que a Bienal, com seus saberes e suas sensibilidades, se firma como importante plataforma de difusão e formação em diferentes vias de conexão, estabelecendo-se como espaço de diálogo e aproximação nas mais diversas esferas de fomento, e não só para o campo da dança no Brasil. A descentralização, a interiorização, o intercâmbio com outros países, a multiplicidade de linguagens envolvidas e os projetos de colaboração e residências artísticas são objetivos primeiros e com engajamento reiterado a cada edição explicitando que as dimensões social, política, econômica e cultural se inserem na Bienal como ativos socioculturais coordenados vislumbrando um projeto de mundo.
A Bienal, como diria o Guimarães Rosa, não conhece sossego de ideias.
A Bienal é permanente inquietude.
Cláudia Pires
Curadora